Em tempos de discussão sobre os direitos da mulher na sociedade, um espaço totalmente pensado para lazer, cultura, e principalmente, bem-estar e segurança feminina chegou à capital catarinense. Estamos falando da La Kahlo, uma bodega feminista localizada no coração da cidade há pouco mais de um ano.
O bar foge do tradicional, trazendo para os visitantes as temáticas de sororidade, respeito, liberdade e muita Frida Kahlo* na decoração, no cardápio, em exposições e manifestações culturais e no público que frequenta o local.
A ideia partiu de Juliana Zaniboni (26), proprietária do estabelecimento. A naturóloga contou que os relatos e as experiências de mulheres em situação de violência que acompanhou na Associação em Defesa dos Direitos Humanos (ADEH), onde trabalhou, encorajaram-na para pensar em um espaço onde a mulher pudesse se sentir bem, feliz e segura.
- Eu não ia num lugar que não me sentia tão bem e sei que minhas amigas também não. Por ser mulher, você não pode ficar bêbada, não pode usar algumas roupas, e alguém vai te acompanhar e incomodar se estiver embriagada, você não se sente confortável, afirmou Juliana.
Apesar da temática majoritariamente feminista, o La Kahlo tem como frequentadoras(es) mulheres e muitos simpatizantes com a ideologia feminista e LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros). Douglas, de 26 anos, mora no Centro da cidade e visita o bar com frequência:
- O La Kahlo é um lugar onde o público é mais fiel com relação a outros bares. Sou heterossexual, apoiador da causa, e acho que todas as pessoas que vem conhecer se sentem à vontade por aqui, contou o estudante de Design Gráfico.
Nas dependências do bar, as discussões diante de telas de televisão transmitindo futebol ou lutas de bares tradicionais são substituídas por um público que debate política, racismo e problemas sociais durante a vida noturna.
No banheiro, a frase: Não temos espelho, mas você está linda! Nas paredes, pôsteres de clubes famosos dão lugar a pinturas e poesias com temáticas que pedem respeito à diversidade.
Ao iniciar as atividades do bar, Juliana sofreu certa resistência principalmente por ser mulher, a única figura feminina dona de um bar da redondeza. A poucos metros da bodega feminista, o bar vizinho contrasta em público e ideologia com o La Kahlo, frequentado quase que exclusivamente por homens mais velhos.
Mesmo assim, Juliana conta que vivem harmoniosamente com os vizinhos e que já se acostumaram cada um com seu espaço. Brincou que, às vezes, os próprios frequentadores do bar ao lado repreendem os desavisados: “Cuidado! Não mexe com a mulherada senão elas vão correr contigo daí”, comentou.
Os visitantes reforçam a segurança e a harmonia entre os frequentadores do La Kahlo e a inovação em trazer um espaço assim para a cidade.
- Florianópolis já aceita as diferenças muito bem em comparação com outras capitais. Por isso, a cidade tem espaço pra oferecer mais lugares com propósito como aqui. Na maioria das vezes, nos juntamos entre mulheres e nos sentimos seguras nos lugares porque estamos entre nós, mas aqui sabemos que é sempre seguro, contou Beatriz, cliente assídua, de 26 anos.
O La Kahlo funciona de segunda a sábado, das 17h às 22h, e domingo oferece programações especiais de música ao vivo, rodas de conversa e debates em horários especiais.
POR QUE FRIDA KAHLO NA DECORAÇÃO E NO NOME?
* Frida Kahlo de Rivera foi uma artista mexicana revolucionária, ícone político e cultural no seu país a partir de 1950. Posteriormente, tornou-se uma das personagens mais conhecidas e exaltadas do movimento feminista por defender os ideais da mulher e representar a figura de guerreira e persistente.
A mexicana assumidamente nacionalista se entitulava filha da revolução, com a marcante frase "Viva la revolución" (em português, viva a revolução). Frida orgulhava-se de ter crescido no período da Revolução Mexicana, e morreu jovem.
Aos 47 anos, partiu depois de inúmeros traumas: passou por 3 abortos sem realizar o sonho de ser mãe, vivia um casamento conturbado por traições, indiferença e desrespeito do marido, sofreu um acidente de ônibus quando jovem passando por mais de 35 cirurgias, e teve sua perna amputada e seus membros deformados por conta da poliomielite, doença que a debilitou durante toda a vida. Para saber mais sobre Frida, você pode assistir ao documentário "Vida e obra de Frida Kahlo", disponível no Netflix.
Uma matéria sobre Culturas Urbanas, de Bruno, Carlos, Jheine e Lucileno.
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